Prof. Marcelo Abreu homenageado pela Sociedade Brasileira de Econometria (SBE)

Publicado em: 13/12/2019

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Marcelo de Paiva Abreu foi o professor homenageado no encontro desse ano da SBE, em reconhecimento às suas notáveis contribuições à área História Econômica. 

No início da sessão em que proferiu conferência sobre o tema "Protecionismo no Brasil: Doença Secular", o homenageado foi saudado pelo Prof. Eduardo Zilberman:

 

"Gostaria de agradecer a Sociedade Brasileira de Econometria por ter decidido prestar essa mais que merecida homenagem. Para mim, é uma grande honra apresentar o Professor Marcelo de Paiva Abreu.

Com PhD em Economia pela Universidade de Cambridge em 1977, Marcelo Abreu juntou-se ao Departamento de Economia da PUC-Rio em 1983, depois de ter passado período relativamente longo no IPEA e na Finep. É Professor Titular da Universidade desde 1991.

Sua pesquisa centra-se nas áreas de política econômica brasileira e história econômica do Brasil, da América Latina e do Reino Unido, especialmente sob a ótica das relações comerciais e financeiras externas.

O livro por ele organizado, A Ordem do Progresso, é a principal referência para quem quer se instruir sobre a história econômica do Brasil. Reunindo ensaios dos melhores economistas de mais de uma geração, o livro percorre toda a história econômica do País desde o Império até os anos mais recentes. Seu capítulo sobre a Era Vargas, com ótica cuidadosa sobre a política externa vigente, é primoroso. Com 34 mil cópias vendidas, o livro é leitura obrigatória para aqueles que prestam os exames de admissão da Anpec e do Instituto Rio Branco. Vem, portanto, influenciando não apenas gerações de economistas, mas também de diplomatas.

É dele também os capítulos sobre a economia brasileira no prestigioso “The Cambridge History of Latin America”, editado por Lesley Bethell.

Mas suas contribuições não se restringem apenas a história econômica do Brasil. Numa série de artigos -- alguns publicados em revistas internacionais de primeira linha em história econômica -- Marcelo Abreu estudou os desdobramentos do endividamento da Grã-Betranha, em libras esterlinas, com a Argentina, Brasil, Egito, Índia e Portugal, durante a Segunda Guerra Mundial. Os processos subsequentes de negociação e abatimento da dívida britânica com esses países e suas implicações nas economias credoras são cuidadosamente esmiuçados e comparados.

A combinação de variedade e coerência da agenda de pesquisa do Prof. Marcelo de Paiva Abreu fica claramente evidenciada na oportuna coletânea de 18 de seus artigos acadêmicos, prestes a ser publicada pela Editora Águas Férreas, em livro de dois volumes intitulado Patrimonialismo e autarquia: Ensaios.

Os temas dos artigos aí reunidos vão da história econômica do Brasil, no Império e na República, à análise comparada das políticas comerciais na América Latina. Da economia política da integração econômica na América Latina à análise histórica das relações econômicas do Brasil com a Grã-Bretanha e os Estados Unidos.

Além de suas contribuições acadêmicas, Marcelo de Paiva Abreu se revelou um observador aguçado do cenário político-econômico brasileiro. Seus artigos no jornal O Estado de São Paulo, do qual foi colaborador por mais de duas décadas, têm insights fantásticos. Um deles diz respeito a “macroeconomia do homem cordial,” uma alusão à expressão de Ribeiro Couto, imortalizada por Sérgio Buarque de Holanda. A cordialidade do homem cordial não se refere apenas a atitudes cordatas e positivas, mas também ao que vem do coração, do familiar, do privado, em detrimento do público. E quando a política macroeconômica vem do coração, desconhece-se os limites impostos pelo orçamento.

Em artigo de julho de 2006, quando Alckmin e Lula disputavam a cadeira presidencial, quatro anos antes da eleição de Dilma, Marcelo mostrou que vislumbrava com impressionante clareza o que estava por vir. Abre aspas. “Não há como negar que o País está diante de outra encruzilhada decisiva. A prevalecer a inércia, de novo o efeito cumulativo da macroeconomia do homem (ou da mulher) cordial levará à inviabilização de políticas responsáveis no terreno fiscal. No pior cenário, o País será devorado pela expansão extremamente rápida dos gastos públicos, especialmente os relacionados à Previdência Social [...].” Fecha aspas.

Em outro artigo, de 1999, Marcelo diz que, abre aspas, “é difícil imaginar um presidente da República que melhor se ajuste ao paradigma do homem cordial do que Juscelino Kubitschek. Mais do que isto, a sua política econômica foi a do homem cordial, veio do coração, desconheceu as limitações impostas por orçamento.” Fecha aspas. No mesmo texto, ele questiona, abre aspas, “se algumas das raízes importantes do golpe de 1964 não estariam relacionadas à deterioração da gestão macroeconômica no governo JK.” Fecha aspas. Esse trecho ressalta a importância da perspectiva histórica através de um olhar crítico. Ao conectar o descalabro fiscal com a institucionalidade e a funcionalidade do país nos anos 60, o alerta foi dado vinte anos atrás.

Tópico da palestra de hoje, protecionismo no Brasil também foi tema recorrente em seus artigos. Ele não se cansava de insistir na emblemática expressão “enrolado na bandeira nacional”, ao se referir àqueles que defendiam o protecionismo, confundindo interesses próprios com o bem-comum.

Como se não bastasse ser uma grande referência acadêmica, Marcelo teve papel fundamental no esforço coletivo de construção institucional que transformou o Departamento de Economia da PUC-Rio no prestigioso centro de ensino e pesquisa que hoje é.

Sempre mostrou ser um colega generoso e um amigo leal, com um cuidado todo especial para com as gerações mais novas de economistas. Não à toa, mantém vínculos de amizade com longa lista de professores, de diversas gerações, que passaram pelo Departamento de Economia da PUC-Rio.

Da grande referência acadêmica, jamais esquecerei a diligência e a disciplina com que varria arquivos públicos no exterior, coletando material para seguir fazendo pesquisa de alta qualidade. Do colega generoso, jamais esquecerei os cafés nos pilotis, recheados de referências históricas, que vez ou outra, terminavam com uma pilha de livros emprestados sobre a minha mesa. E do amigo leal, jamais me esquecerei do seu apoio e acolhimento nessa montanha russa que é fazer pesquisa no Brasil.

Poderia falar muito mais sobre o Marcelo, de suas contribuições acadêmicas, de suas observações argutas sobre a realidade brasileira, assim como de sua imensa generosidade. Mas como cada minuto que falo a mais, é um minuto a menos que vocês terão para ouvi-lo, termino por resumir sua rica biografia em uma frase. Sem dúvida, o grande historiador econômico no Brasil em muitas gerações!"

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