Estrutura Demográfica e a Transmissão da Política Monetária

Marcela Racy Kurtenbach.

18/08/2017

Orientador: Tiago Couto Berriel.

Banca: Eduardo Zilberman. Rafael Santos.

Estrutura Demográfica e a Transmissão da Política Monetária

Nível: Mestrado Profissional

Em um mundo em que a população seja mais velha, a maneira como a política monetária é conduzida precisa ser diferente? Esta é a questão que procuramos investigar.

As mudanças de política monetária têm efeitos diferentes sobre várias faixas etárias e, portanto, sobre se a eficácia da política monetária muda com envelhecimento da população.

Vamos neste estudo buscar uma explicação adicional, que a literatura tem até agora ignorado em grande parte. O impacto econômico e político do envelhecimento da população tem sido amplamente estudado no contexto da política fiscal, especialmente no que diz respeito às suas implicações no sistema de seguridade social. A literatura, entretanto, surpreendentemente manteve, de modo geral, os estudos de política monetária e demográfica separados, tratando efetivamente estes como questões independentes.

Vamos argumentar que a demografia deve ter uma influência importante na eficácia e, portanto, na condução da política monetária. Mais especificamente que os efeitos da politica monetária sobre a economia enfraquecem com a evolução demográfica.

Esta é uma questão relevante porque a população no mundo será, em média, substancialmente mais velha no futuro. Por exemplo, na Europa, é provável que a proporção da população com mais de 65 anos seja de cerca de 50% maior em 30 anos. E este resultado tem implicações significativas para condução da política monetária. Por exemplo, para obter o mesmo impacto sobre a atividade e a inflação, ceteris paribus, as mudanças nas taxas de juros terão de se tornar maiores em populações mais velhas, do que nas mais jovens.

Os perfis demográficos mudam significativamente de país para país. Enquanto alguns países envelhecem mais rapidamente do que outros (como, Alemanha e Japão), nenhuma parte do mundo permanece intocada por esse fenômeno. Com as taxas de fertilidade despencando em todo o mundo, inclusive em países de baixa renda, o mundo está passando por uma mudança demográfica sem precedentes e que está levando a um mundo rapidamente envelhecido. Os idosos costumavam representar uma pequena parcela da população, mas avanços tecnológicos e mudanças sociais nos últimos dois séculos transformaram essa estrutura demográfica.

Conceitualmente, numa país em envelhecimento, esperaríamos a priori que os vários canais através dos quais funciona o mecanismo de transmissão monetária variassem, alguns se tornando mais fortes, outros mais fracos. Os cortes mais novos e mais velhos são afetados de forma diferente, afetando a eficácia da política monetária em geral. De acordo com a teoria do ciclo de vida (Modigliani, 1970), as pessoas poupam nas fases iniciais da vida para suavizar o consumo ao longo do ciclo de vida e ter dinheiro para manter o padrão de vida na aposentadoria.  Dessa forma, os padrões de poupança e consumo seguem uma trajetória bem definida, que muda à medida que a população envelhece, com níveis de dívida subindo e depois caindo ao longo do ciclo de vida. Apesar de simples, essa ideia resulta em diversos desdobramentos não triviais, como a explicação das taxas de poupança e como variam de acordo com variáveis demográficas e econômicas.

Dessa forma, é esperado que populações mais velhas, tipicamente com um grande percentual de credores, sejam menos sensíveis às alterações das taxas de juros; enquanto que populações mais jovens, que normalmente tem um maior percentual de devedores, tenham sensibilidades mais elevadas à política monetária. Assim, as sociedades dominadas por famílias jovens tendem a ser mais sensíveis às mudanças nas taxas de juros, tudo o mais constante, e logo, as mudanças na política monetária seriam mais efetiva.

Iremos empiricamente avaliar o impacto do envelhecimento na eficácia da política monetária. Primeiramente, iremos estimar o impacto da política monetária sobre o produto/consumo, evidenciando um enfraquecimento geral da transmissão da política monetária ao longo do tempo. Em outras palavras, produto/consumo menos sensíveis às mudanças nas taxas de juros. Depois, utilizaremos o método de OLS para testar o efeito negativo e estatisticamente significativo das alterações demográficas na eficácia da política monetária.

Este estudo será estruturado da seguinte forma. No capítulo II, analisaremos quadro demográfico dos países em questão, seguida de uma explicação dos vários canais através dos quais as mudanças demográficas podem levar a mudanças na eficácia da política monetária. No capítulo III, usando um modelo VAR, estimaremos o impacto da eficácia da política monetária ao longo do tempo. Usando funções de resposta de impulso, analisaremos se existe um enfraquecimento geral do impacto da política monetária sobre atividade/consumo, sugerindo uma diminuição da eficácia ao longo do tempo. Em seguida, no capítulo IV, testaremos a relação entre mudanças demográficas e enfraquecimento da política monetária. Concluiremos no capítulo V e discutimos as implicações políticas.

Os resultados sugerem que os formuladores de políticas devem levar em conta o perfil demográfico do país na condução de políticas monetárias. Em particular, a política monetária terá de operar de forma diferente e mais agressiva nos países mais velhos para obter o mesmo impacto que numa sociedade mais jovem.

A política monetária é um instrumento chave dos formuladores de políticas para estabilizar a economia. Se envelhecimento da população reduz marginalmente a eficácia da política monetária, outros instrumentos para estabilizar a economia tornam-se necessários. O papel relativo da política fiscal e macro prudencial como um meio para estabilizar a economia pode se tornar cada vez mais importante.

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